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Papel Farmacêutico #5

por Luís Fernandes, em 29.10.15

Congresso Nacional dos Farmacêuticos 2015 : A reflexão de um estudante

 

Na rubrica Papel Farmacêutico desta semana irei dar destaque ao evento que irá decorrer entre os dias 29 e 31 de outubro, que como a maioria de vocês já sabe é o Congresso Nacional dos Farmacêuticos, evento este a que infelizmente não poderei comparecer.

Devido a este facto, senti a necessidade de dar a conhecer pelo menos a minha opinião sobre os temas gerais que compõe o congresso e espero com esta crónica despertar o interesse para os mesmos, daqueles que não poderão assim como eu comparecer, mas também daqueles que irão lá estar.

Depois de uma consulta atenta no microsite do congresso, decidi que abordar numa só crónica todos os temas que nele vão ser tratados seria uma tarefa impossível para o formato desta rubrica, pelo que irei, nesta pequena reflexão apenas me restringir ao tema mais abrangente e que será o mote para todos os outros conteúdos do congresso.
Posto isto, farei, à semelhança do desafio que vos irá ser proposto nos dias 30 e 31 de outubro, uma reflexão sobre o sistema de saúde português e a relevância da intervenção profissional dos mais de 14 mil farmacêuticos portugueses em prol dos doentes e dos cidadãos em geral.

Certamente irei apresentar argumentos que já referi em crónicas anteriores, mas creio que perdoar-me-ão essa repetição e para que não desistam de ler esta crónica irei apresentar cada uma das reflexões por tópicos, deixando à vossa mercê a leitura de todos os tópicos ou de apenas aqueles que mais vou aprouver.
Sistema de saúde: Neste tópico gostaria de começar por salientar a qualidade do nosso sistema de saúde, já reconhecido por muitos como sendo dos melhores a nível mundial. Considero que este reconhecimento não foi benéfico, uma vez que temos observado nos últimos tempos a uma degradação do mesmo. Os cortes indiscriminados no sistema de saúde levaram a que mesmo com o esforço dos profissionais de saúde, se tornasse impossível a manutenção da qualidade do serviço prestado. O papel do Farmacêutico é transversal em todas as áreas que compõem o sistema de saúde e na minha opinião talvez seja este um dos profissionais mais responsáveis pela contenção do impacto que os cortes têm causado na qualidade do sistema de saúde em Portugal. Importa referir que grande parte dos cortes na saúde em Portugal foram feitos a nível dos medicamentos e mesmo a trabalhar com margens de lucro muitas vezes incomportáveis, os Farmacêuticos não deixaram de ser responsáveis e realizar o seu papel com o brio e profissionalismo a que os utentes tanto se habituaram.

Farmácia Comunitária: Neste tópico gostaria que me acompanhassem num raciocínio básico que muitos dos nossos responsáveis políticos não têm conseguido fazer, ou os lobbys não lhes têm permitido fazer. O profissional de saúde mais próximo da população é o Farmacêutico e a formação e conhecimento que este dispõe, faz com que as farmácias sejam unidades de saúde que podem responder de forma eficaz aos mais diversos desafios do quotidiano do utente, podendo integrar a rede de cuidados primários do SNS e com isto dar um importante contributo no acompanhamento dos utentes, especialmente os doentes crónicos. Por tudo isto, os desafios para os Farmacêuticos Comunitários são grandes e só com apoio público se poderá alcançar um modelo de saúde acessível a todos os utentes.

Farmácia Hospitalar: Neste contexto o Farmacêutico assume um papel muito importante, embora muitas das vezes seja um profissional sombra (não é visto no exercício na maioria das suas funções) para a maioria dos utentes. No circuito dos medicamentos a nível hospitalar, o Farmacêutico é o responsável pela validação e análise Farmacoterapêutica da prescrição (doses, frequência de administração, interacções farmacoterapêuticas e vias de administração), pela dispensa em regime de ambulatório e ainda contribui para a detecção e notificação de quaisquer reações adversas que possam surgir da utilização dos fármacos, entre muitas outras funções, não menos importantes. Por esta razão considero de extrema importância, a incorporação do Farmacêutico na visita médica a nível hospitalar em todos os hospitais, pois só assim se dota o Farmacêutico de todo o conhecimento clínico do utente para que a validação da prescrição seja feita da forma mais correta possível. Para fechar este tópico, gostaria de afirmar que é com desagrado que tenho observado que o setor público não tem sido ao longo dos últimos anos um sector de oportunidades para os Farmacêuticos, como a denotada necessidade destes profissionais no Sistema Nacional de Saúde (SNS) o deveria exigir.

Distribuição Grossista: Dentro desta área há muito a dizer acerca do papel do Farmacêutico e sem dúvida que tem sido uma área que tem colocado inúmeros desafios aos profissionais que decidiram abraçar esta área. O Farmacêutico é responsável pela permanente avaliação e manutenção da qualidade segurança e eficácia dos medicamentos comercializados ao nível da distribuição grossista, sendo por isso a peça fundamental em toda a distribuição de medicamentos e o principal responsável pela segurança dos fármacos em todo o circuito do medicamento até chegar ao utente. Sendo este um setor muito desconhecido para a maioria dos utentes, é de facto relevante dar a conhecer a importância destes profissionais e sem dúvida que é das áreas que mais contribui na minha opinião para a versatilidade da profissão farmacêutica.

Indústria Farmacêutica: Atendendo ao nome do sector seria de esperar que fosse este um dos mais apetecíveis para os Farmacêuticos e de facto é, mas nos últimos tempos têm-se verificado alguma tendência para a precariedade e esta área já não é líder na ambição do Farmacêutico recém-mestre. O papel do Farmacêutico nesta área é muito vasto e complexo, e abrange várias áreas que passarei a enumerar: produção do medicamento, garantia de qualidade, embalagem de medicamentos, elaboração e controle da documentação técnica, controle de qualidade físico-química e microbiológica, assuntos regulamentares, planeamento e controle da produção, marketing, desenvolvimento de produtos, pesquisa clínica, Farmacovigilância, distribuição e representação comercial. Dadas as inúmeras responsabilidades do Farmacêutico em todas estas atividades que fazem parte da Indústria Farmacêutica, espero que esteja para breve uma mudança no setor e espero poder assistir à dignificação de todos os profissionais que trabalham nesta área.

Análises Clínicas: Esta área é muito importante, uma vez de demostra bem que o Papel do Farmacêutico e as atividades que por este são realizadas não se restringem apenas ao âmbito do medicamento. A versatilidade da formação do Farmacêutico permite-lhe ter um papel preponderante em outras áreas, como nas Análises Clínicas. Não é ainda do conhecimento de alguns estudantes de Ciências Farmacêuticas e da sociedade em geral, que a Direção Técnica e a propriedade da maioria dos laboratórios de análises clínicas em Portugal são de Farmacêuticos. Os dados estatísticos não mentem quando afirmam que foram as Análises Clínicas que muito contribuíram para a melhoria da saúde em Portugal, com base no que disse hà pouco foram na sua maioria Farmacêuticos que contribuíram para a melhoria dos indicadores de saúde em Portugal. O papel do Farmacêutico tem sofrido adaptações ao longo do tempo nesta área, uma vez que já não são apenas quem realiza as Análises Clínicas, como são também os consultores. Foi então assim reconhecida a competência dos Farmacêuticos Especialistas em Análises Clínicas nesta área a par com os Médicos Especialistas, sendo estes profissionais a chave para a racionalização dos custos associados à saúde. Considero que as Análises Clínicas em Portugal são um setor em que se verifica um elevado grau de reconhecimento do papel do Farmacêutico, posto isto, é muito importante que este facto não se venha a alterar e que todos os profissionais desta área se juntem para manter o estatuto que conquistaram.

Análises toxicológicas, Análises ambientais, Análises de água e de alimentos: Decidi neste tópico aglomerar alguns dos principais tipos de análises que têm como responsável o Farmacêutico. E qual a razão desta aglomeração, é simples, a crónica já vai longa e tentarei ser um pouco mais sucinto neste caso, pois tratar cada uma de forma individual levaria a mais umas boas centenas de palavras. Indo direto ao assunto, o Farmacêutico é aquele que se poderá chamar o Homem dos 7 oficios (são mais) e nas Análises Toxicológicas este tem competências para desempenho profissional em centros de investigação, laboratórios de análises químico-biológicas, centros de anti-venenos, nas delegações do Instituto de Medicina Legal ou como peritos jurídico-legais. Ao nível das Análises ambientais, de água e de alimentos, o papel do Farmacêutico aparece bem vincado ao nível do controlo de qualidade bem como na aplicação de todos os conhecimentos nutricionais e de análise de alimentos que adquire ao longo da sua vasta formação. Na minha opinião, este tópico aborda áreas em que os Farmacêuticos têm vindo a perder terreno para outros profissionais que têm surgido no mercado, por isso é essencial que se tome um conjunto de medidas para voltar a recuperar, um lugar que pertence à profissão farmacêutica.

Ensino e investigação científica: É de salientar que enquanto estudantes do Mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas é com profissionais desta área que temos mais contato. Esta é sem dúvida a área que está na “moda” entre os estudantes e muitos sonham em tornar-se um dia em grandes investigadores. Posto isto, considero que o caminho passa por adequar cada vez mais o ensino às necessidades profissionais e incentivar cada vez mais projetos de investigação que promovam a inovação na profissão farmacêutica e que demostrem o elevado valor do contributo dos Farmacêuticos na saúde em geral. Por estas razões, é com preocupação que vejo os sucessivos cortes feitos nos apoios à investigação em Portugal e não posso deixar de dar os parabéns aos investigadores, que dentro do nosso país, conseguem com pouco obter resultados muito importantes para a saúde a nível mundial.

Por Fim, e para dar por terminada esta crónica, gostaria apenas de desejar a todos os que estarão presentes no Congresso Nacional dos Farmacêuticos, um bom congresso e para todos aqueles que não poderão estar presentes e perderam algum tempo a ler esta crónica espero que tenham conseguido comigo, fazer uma reflexão sobre o Farmacêutico e o seu Papel nas mais diferentes áreas de intervenção na sociedade.

 

 

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